Quando eu era criança, ainda na escola primária, eu aprendi que o nome da minha cidade significa “pedra pontiaguda” em Tupi, devido a uma pequena montanha nas redondezas. Essa informação, apesar de admitir que seja um tanto inútil, é de conhecimento de praticamente qualquer pessoa da minha faixa etária que viveu na cidade. Não sei dizer se isso foi algo que era ensinado só por aqui e também não sei se isso ainda é ensinado hoje em dia nas escolas, mas o fato é que esse era um dos conhecimentos mais básicos para os alunos da minha época.
Saber a origem e o significado do nome da nossa cidade era algo muito valorizado pelos meus professores. No entanto, sou obrigado a admitir que a razão disso está além do meu conhecimento. Talvez quisessem estimular um sentimento de grupo ou união, talvez encorajar o nosso interesse por História ou etimologia, ou talvez até mesmo por razões um tanto mais ufanistas. Seja qual for o motivo, o fato é que, pelo menos para mim, isso foi algo que me fez (e ainda faz) refletir sobre o nome das cidades. Assim, acabou se tornando uma espécie de hobby para mim procurar a origem dos nomes das cidades.
Relacionei abaixo dois exemplos de cidades cujos nomes são em si peculiares e que têm origens interessantes.
Havia, no norte de Minas Gerais, um pequeno vilarejo chamado Milagres de Jesus (ou, freqüentemente, apenas “Milagres”), que era parte da cidade de Carlópolis. Em meados dos anos 1820, o americano Washington Alexander Cooper (pronunciado “cúper”) se mudou para o vilarejo, atraído pelas muitas minas de ouro recém descobertas no local. Logo que se instalou em Milagres, Washington Cooper se deparou com as terríveis condições em que viviam os seus companheiros trabalhadores das minas. O seu espírito revolucionário, aliado à sua avidez por justiça, logo fez com que se tornasse um importante defensor dos mineiros, buscando condições mais dignas para a sua classe. Vendo também grande potencial em Milagres, Washington defendia que o vilarejo devia se emancipar de Carlópolis, o que se tornava um anseio crescente entre a população do vilarejo.
Toda essa mobilização política e social de Washington Cooper fez com que ele fosse odiado pelos poderosos de Milagres e Carlópolis. Durante vários anos, ele sofreu atentados, passou por terríveis privações e foi repetidas vezes vítima de agressão e tortura. Todo esse sofrimento de Washington fez com que ele recebesse a alcunha de “coitadinho” (ou apenas “tadinho”, segundo o linguajar local).
Infelizmente, apesar dos seus incansáveis esforços, Washington Cooper nunca viveu o suficiente para ver o seu vilarejo se tornar independente. Isso aconteceu apenas em 1863, cinco anos após a sua morte. Porém, os novos fundadores decidiram que seria uma boa idéia batizar a nova cidade homenageando Washington Cooper e também reconhecendo todo o seu esforço e o sofrimento por que passou lutando pelo vilarejo. E essa é a origem do nome da cidade mineira de Coopertadinho.
Em 1912 nascia Teobaldo Henrique do Rego, na cidade litorânea de Cambotirica da Serra, no Rio de Janeiro. Sua família e amigos o chamavam simplesmente de “Teo” (pronunciado “têu") e, desde muito novo, ele se interessava por navios, principalmente os de guerra. Portanto, não foi surpresa para ninguém quando o jovem Teo se alistou na marinha assim que completou 18 anos.
Profundamente apaixonado pelo mar e pela vida militar, Teo subiu de patentes rapidamente. A sua consagração, no entanto, veio com a 2ª Guerra Mundial, quando foi considerado herói de guerra após os seus extraordinários feitos nas Batalhas de Irineus, Porlipéia e Maraqueus, e foi agraciado com diversas homenagens e condecorações. Até os dias atuais, as manobras e táticas do Capitão Teo são estudadas e ensinadas na Academia Naval Brasileira (ANB).
Depois de uma longa e brilhante carreira militar, Teo se aposentou com o título de Comodoro (também conhecido como “Capitão-de-Mar-e-Guerra”) e retornou para a sua cidade natal. Mas a fama o perseguiu até Cambotirica da Serra. Os seus feitos eram admirados tanto pelos militares quanto pelos civis. O seu prestígio era tamanho que a pequena cidade foi, por três vezes, visitada pelo presidente da república. A influência do Comodoro foi incrivelmente benéfica para a sua cidade, que, fortificada principalmente pelo turismo gerado pela sua presença, prosperou muito desde o seu retorno.
Em 1990, trazendo grande comoção em todo o país, o famoso militar de Cambotirica da Serra faleceu, aos 78 anos de idade. Após um plebiscito, os governantes da cidade mudaram o seu nome a fim de homenagear o seu herói nacional. E foi assim que a cidade de Cambotirica da Serra passou a ter o nome atual: Comodoro Teo Rego.
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